No limiar do mês de dezembro, depois de feitas as compras, escolhido cardápio entre outros preparativos Solange ansiava por transformar sua casa em um refúgio de celebração natalina, onde alegria e risadas ecoariam pelas paredes. Antecipando-se à festa, enviou convites repletos de calor humano, imaginando uma celebração que seria o ápice da confraternização. No entanto, à medida que o tempo avançava, um sabor amargo de desilusão se instaurava, pois os amigos de longa data na hora da confirmação, recusaram o convite.
Alice, envolvida em seu novo relacionamento, optou por passar a noite ao lado do novo namorado, uma escolha que já se tornara padrão em suas interações passadas… Quando Solange ligou para confirmar sua presença na festa, era possível notar pelo tom de voz dela que seu pensamento se encontrava em outro lugar.
"Espero que possa vir à minha festa de Natal", disse ela. Do outro lado da linha, ouviu-se um suspiro de Alice. "Sinto muito, mas não poderei ir. Estou completamente apaixonada e queria passar a noite de Natal apenas com ele", respondeu ela, parecendo distraída. "Entendo como um novo romance pode preencher todos os seus pensamentos. Espero que vocês dois se divirtam", disse Sol, percebendo que o foco de Alice agora era outro.
Marli, conhecida por ser interesseira, justificou sua ausência ao afirmar que já havia compromissos com outras amigas para passar o Natal em um iate luxuoso. A recusa dela fez com que Solange questionasse se sua amizade é tão forte quanto imaginava e se sentiu um pouco magoada.
Júlia, apesar de sua natureza amigável, mantinha uma aversão notória às comemorações natalinas, e qualquer festa, especialmente de aniversário, e sua presença era completamente descartada.
Isabella, por sua vez, viajaria com primos que haviam chegado da América com quem vai morar em março do ano que vem, tornando-se inatingível para os planos de Solange. Uma mistura de tristeza e compreensão se apossou de Solange: “Entendo que você tem outros compromissos, no entanto, sinto uma pontada de saudade antecipada, sei que a nossa amizade será diferente a partir de março por conta da distância então pensei em… Bem… tenha um Natal feliz”.
Luísa, sempre emocionalmente distante, recusou o convite sem rodeios, agindo com a insensibilidade que a caracterizava, trazendo à mente de Solange tantas ocasiões em que havia causado desconforto com sua falta de empatia, porém a recusa ao convite, a deixou surpresa. Luísa sempre foi uma pessoa intrigante e imprevisível, mas Sol esperava que ela se juntasse à celebração.
João, conhecido por suas exigências, recusou o convite, recordando-a da vez em que causou alvoroço e abandonou um acampamento por não ter uma barraca exclusiva. A recusa de João fez com que ela se sentisse um tanto quanto desvalorizada, como se suas tentativas de agradar não fossem suficientes para conquistar sua presença.
A frustração inicial de Solange se metamorfoseou em decepção profunda, pois seus amigos, companheiros de tantas jornadas desde a faculdade, escolheram caminhos distintos na véspera do Natal. Abalada, Solange encontrou consolo na solidão que a envolveu.
Em meio à solitude, Solange começou a refletir profundamente sobre suas próprias atitudes. O silêncio da noite permitiu que ela revisse escolhas passadas e questionasse por que atraía pessoas que, aparentemente, não compartilhavam do mesmo afeto que ela tinha por elas. Era um momento de introspecção, uma jornada interna em busca de entendimento e crescimento.
Na véspera do Natal, quase à meia-noite, a campainha ecoou. Ao abrir a porta, Solange deparou-se com dona Helena, mãe de Carmen, uma amiga que não era muito adepta ao grupo, carregando um presente elegantemente embrulhado, um cartão e uma garrafa de champanhe.
Ao receber o pacote, Solange abriu o cartão, onde estava escrito: 'Feliz Natal. Queria te retribuir o lindo cartão que me deu e dizer que eu gosto muito de você, sempre gostei.' Solange recordou-se do momento em que havia entregue o cartão de Natal a ela. Envergonhada por ter esquecido de comprar um presente que significasse algo à amiga, acabou entregando um dos que comprou para não deixar passar em branco.
Enquanto lia, uma compreensão profunda a envolveu. Segundo dona Helena, Carmen havia falecido há 20 dias, mas suas lembranças foram enviadas como uma última expressão de carinho preparada com antecedência. Lembrou-se de que foi Carminha quem a ensinou a organizar antecipadamente a vida, as finanças, as emoções… Inclusive as compras de Natal.
A revelação da partida de Carmen deixou Solange atônita. Ela não tinha conhecimento da doença da amiga. "Eu não sabia que ela estava doente", confessou Solange para dona Helena. "Eu me sinto tão culpada por não ter ficado mais próxima a ela."
O Natal de Solange, inicialmente marcado pela frustração e decepção, transformou-se em um ponto de partida para uma nova jornada enquanto desembrulhava os presentes e decidia ficar com todos para si.
A tristeza pela ausência dos amigos foi substituída pela compreensão da efemeridade da vida e pela resolução de cultivar amizades genuínas. Solange decidiu embarcar em uma jornada de autenticidade, onde não perderia mais a oportunidade de construir conexões verdadeiras.
O ambiente natalino ao seu redor, repleto de luzes cintilantes e fragrâncias acolhedoras, tornou-se o cenário de sua redenção e da promessa de um novo começo, uma versão mais autêntica de si mesma emergindo na noite natalina. Desejosa de um ano novo cheio de novidades.
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